Lula deve ser amordaçado?

Por implacavel
A julgar pela oposição, Luiz Inácio Lula da Silva só tem liberdade para falar de futebol.O ministro Celso de Mello declarou que, se Lula fosse presidenteda República, poderia enfrentar um processo de impeachment casotivesse feito declarações e insinuações semelhantes àquelas queo ministro Gilmar Mendes afirma que ele fez.O caso é este. Um presidente da República não tem opinião pessoal.Tudo o que ele pensa e manifesta envolve o cargo que ocupa e podeser considerado uma forma de pressão sobre alguém.Mas Lula é ex-presidente e tem o direito de dizer o que pensa para toda pessoa que tenhadisposição de ouví-lo.Ex-presidente é assim. Se o Fernando Henrique pode falar a favor da legalização das drogas num pais infernizado pelo crack, embora muitos educadores considerem que essa simples medida pode estimular o consumo da droga, pergunto por que Lula não pode dizer o que pensa sobre a melhor época para o julgamento do mensalão.
Não pode, é claro, chantagear nem sugerir uma barganha, coisa queeu duvido sinceramente que tenha feito.Mas eu acho que toda pessoa maior de idade e em pleno gozo de suasaúde mental que senta-se para conversar com um ex-presidente e umex-ministro do Supremo, do governo Lula e do governo FHC, comoNelson Jobim, sabe que a conversa não vai se limitar a futebolnem a mulher bonita. Vai se falar de política e é claro que,de uma forma ou de outra, vai chegar ao assunto do momento, queé o mensalão.E é claro que quando Lula, Gilmar Mendes e Nelson Jobim falam dessesassuntos, a conversa não é simples tertulia literária. Vem carregadade duplos, triplos e quádruplos sentidos.São profissionais da conversa. Muito pouco precisa ser dito porquetudo pode ser entendido.O esforço para transformar esse triálogo atende a outra agenda. Consistena tentativa permanente da oposição para criar um clima politizadoem torno do julgamento do mensalão.Essa é a questão. Na medida em que as partes já apresentaram suas armas,as estratégias para o julgamento estão cada vez mais claras.A oposição aposta que um clima politizado, de denuncia, de indignação, será útil para obteruma condenação. Torce, também, por uma decisão no primeiro semestre,que poderá trazer benefícios nas eleições de outubro. Não é preciso ter diploma demarketing eleitoral para calcular que uma sentença do Supremo terá um valor deprova na visão de muitos eleitores.O PT se esforça na direção contrária. Acredita que o exame das provas, a exposiçãoserena dos pontos de vista pode ser favorável aos acusados.Essa é a discussão.