Primeiro ministro inglês pretendia negociar ações de Murdoch

Por zanuja castelo branco

Primeiro-ministro inglês nega que tenha feito acordo com Murdoch

Marcelo Justo - De Londres, Carta Maior

Em entrevista a BBC, David Cameron admitiu que falou com James Murdoch, filho do magnata midiático Ruppert Murdoch, sobre a oferta da News Corp. para adquirir todo o pacote acionário do gigante televisivo BskyB. “Quero deixar que não houve nenhum tipo de acordo para dar algo em troca de outra coisa. Não existiu nenhum pacto”. A necessidade de Cameron de vir a público negar esse pacto aponta para seu flanco mais vulnerável.

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Marcelo Justo - De Londres

Londres - O primeiro ministro David Cameron admitiu que falou com James Murdoch, filho do magnata midiático Ruppert Murdoch, sobre a oferta da News Corp. para adquirir todo o pacote acionário do gigante televisivo BskyB. Em uma entrevista a BBC, Cameron reconheceu que o encontro em uma festa pré-natalina com a executiva da News International, Rebekah Brooks, em 2010, foi um erro. Neste momento, o governo analisava se a proposta de Murdoch poderia afetar a liberdade de imprensa no Reino Unido. “Quero deixar que não houve nenhum tipo de acordo para dar algo em troca de outra coisa. Não existiu nenhum pacto”, assinalou Cameron.

A necessidade de Cameron de negar a existência de um pacto aponta para seu flanco mais vulnerável. O grupo Murdoch apoiou abertamente David Cameron nas eleições de maio de 2010 depois de ter apoiado o trabalhismo desde 1997. A suspeita de que essa mudança de posição pudesse estar vinculada com a oferta do grupo Murdoch pela BskyB se intensificou pela crescente proximidade dos conservadores com o grupo, o que incluiu a nomeação como chefe de imprensa do governo o ex-editor de “News of the World”, Andy Coulson, que foi obrigado a renunciar por causa do escândalo das escutas telefônicos da hoje falecida publicação.

Em sua entrevista a BBC, o primeiro ministro assinalou que não lembrava com exatidão o que havia dito a James Murdoch, mas que a conversa ocorreu pouco depois de o liberal democrata titular da pasta de Empresas, Vince Cable, ter “declarado guerra” a News Corporation. “O que lembro é que disse a ele que isso era totalmente inaceitável e embaraçoso para o governo e que este iria se comportar de maneira imparcial. Certamente que deixou claro que eu não teria nenhum vínculo com a decisão que fosse tomada a respeito”, assinalou o primeiro ministro a BBC.

Cameron defendeu seu ministro da Cultura, Jeremy Hunt, duramente questionado por sua investigação sobre a oferta da News Corp. “Pelo que vi até aqui, não creio que Jeremy Hunt tenha violado o código de conduta ministerial”, disse o primeiro ministro. Esta defesa de um de seus ministros favoritos, até bem pouco tempo, não foi nem um pouco entusiasmada. O ministro teve que comparecer quarta-feira diante do parlamento depois que a Comissão Leveson, que analisa a relação entre políticos e meios de comunicação, a partir do escândalo das escutas telefônicas, publicou mais de 160 páginas de email’s trocados entre Frederic Michel, lobista dos Murdoch, James Murdoch e o assessor especial de Hunt, Adam Smith. Nestas mensagens, que provocaram a imediata renúncia de Smith, Michel cita uma série de intervenções de Hunt para favorecer a aquisição da BskyB, garantindo que não se criaria um monopólio midiático capaz de afetar a liberdade de imprensa.

No parlamento, Hunt assinalou que não sabia de nada sobre esses email’s e que Adam Smith tinha se excedido em seus contatos com o lobista dos Murdoch, razão pela qual teria aceitado a renúncia. Não surpreende que a oposição trabalhista não tenha acreditado em uma palavra e exigido sua renúncia, mas chama a atenção que nenhum dos comentaristas políticos – e ninguém de seu próprio partido conservador, com a exceção de Cameron – tenha dado crédito a esse suposto desconhecimento do que fazia o seu assessor especial no caso mais importante em anos do Ministério da Cultura.

O caso Murdoch se soma à recessão que vive o país e a uma série de escândalos que atingiram a Coalizão e, em especial, os conservadores. Os trabalhistas levam uma vantagem de 11 pontos nas pesquisas e, pela primeira vez, o primeiro ministro David Cameron está sendo percebido como “incompetente” pela maioria dos entrevistados. A eleição nesta quinta-feira para a Prefeitura de Londres e de aproximadamente cinco mil vereadores em 181 municípios britânicos será uma prova de fogo para seu governo.

Tradução: Katarina Peixoto