A austeridade está em crise na Europa

Por zanuja castelo branco

Modelo de austeridade de Merkel está em crise na Europa

De Marcelo Justo - Direto de Londres, Carta Maior

As eleições na França e na Grécia, a queda do governo holandês e romeno, a recessão no Reino Unido, na Espanha e na Bélgica são sinais de um modelo econômico contra as cordas. Na reta final da campanha presidencial francesa, Angela Merkel se converteu na melhor aliada do candidato socialista François Hollande. A chanceler alemã rechaçou energicamente a proposta de Hollande de renegociar o pacto fiscal. "A Alemanha não decide o destino da Europa", respondeu Hollande. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.

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Marcelo Justo - Direto de Londres

Londres - A austeridade está em crise. As eleições na França e na Grécia, a queda do governo holandês e romeno, a recessão no Reino Unido, na Espanha e na Bélgica são sinais de um modelo econômico contra as cordas. Até o ultra-ortodoxo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, assinalou que o ajuste necessita de um plano para o crescimento. Em uma tentativa de parar uma bola de neve política antes que ela se torne incontrolável, a chanceler alemã Angela Merkel, principal impulsionadora pan-europeia do ajuste, acaba de anunciar que está sendo preparada uma “agenda de crescimento” para a cúpula de chefes de Estado e de governo europeus que ocorre em junho.

A agenda pode ser mais um exercício de relações públicas do que uma mudança significativa do rumo adotado desde que estourou a crise grega em 2010. Na última semana da campanha presidencial francesa, Angela Merkel se converteu na melhor aliada do candidato socialista François Hollande. A chanceler alemã rechaçou energicamente a proposta de Hollande de renegociar o pacto fiscal assinado no final do ano passado por 25 dos 27 membros da União Europeia (UE). Em um país com forte orgulho nacional, a declaração de Merkel foi como um maná celestial para o candidato socialista. “A Alemanha não decide o destino da Europa”, disse Hollande à televisão francesa.

Com essa turbulência no eixo franco-alemão, pilar da eurozona, governos conservadores, mas com a corda no pescoço, como o de Mariano Rajoy na Espanha, ou o do tecnocrata Mario Monti, na Italia, começam a se inclinar mais na direção da Hollande do que da intransigência de Merkel. Com um desemprego recorde (24,4%, mais de 5 milhões e meio de pessoas) e uma nova crise bancária em gestação, o respaldo eleitoral que Rajoy obteve nas eleições de novembro está se evaporando a uma velocidade supersônica. A contínua mensagem de austeridade da União Europeia, que não esperou que terminassem as celebrações de sua vitória, é contraproducente. Além de colocar em dúvida a vontade política de levar adiante o ajuste, evapora a possibilidade de falar de crescimento.

No último trimestre do ano passado, a eurozona entrou tecnicamente em recessão e a projeção é que 2012 será um ano de crescimento econômico negativo. A camisa de força do euro não ajuda, mas estar fora da eurozona tampouco é uma garantia. O caso britânico é um exemplo. A economia começava a emergir da crise de 2008 graças ao programa de estímulo econômico trabalhista que a coalizão de Cameron reverteu ao tomar o poder em maio de 2010. O respirador keynesiano sustentou a frágil recuperação até princípios do ano passado, mas a partir de então, as demissões, o aumento de impostos e os congelamentos salariais começaram a erodir toda possibilidade de crescimento.

Na última quarta-feira, os dados oficiais confirmaram que tecnicamente o Reino Unido entrou em recessão. O déficit fiscal baixou de 11% em 2010 para 8,3% no ano passado, mas em março, começou a se desenhar a tendência contrária: com a queda da arrecadação fiscal, o governo está começando a pedir emprestado mais do que havia planejado.

Enquanto isso, a Europa começa a fazer água politicamente por todas as partes. Na Romênia o governo caiu na sexta-feira quando a oposição capitalizou uma onda de protestos populares contra o ajuste. Na República Checa, o governo de centro-direita de Petr Necas está nas cordas pelo mesmo motivo. Na Grécia, há cada vez mais indicações de que as eleições do próximo fim de semana deixarão um parlamento fragmentado com crescente presença de um partido de ultradireita que propõe minar as fronteiras para evitar uma invasão e uma importante presença de forças de esquerda: o rechaço à austeridade será muito amplo. A eleição grega deveria preparar o caminho para os fundos da União Europeia: o parlamento grego não aprovar o plano seria como desconectar o respirador artificial que mantém a Grécia no euro.

Em todos os países está aparecendo essa tendência favorável à políticos fora do establishment à direita e à esquerda. A importante votação de Marie Le Pen (17,9%) e do ex-trotskista Jean-Luc Melenchon (11%) no primeiro turno francês é um exemplo disso. Nas eleições municipais da Itália de 6 e 7 de maio, uma recente pesquisa deu 7,5% das intenções de voto ao humorista Iuseppe “Beppe” Grillo. No Reino Unido, a última pesquisa mostra a pior perda de apoio do primeiro ministro David Cameron em oito anos e um importante aumento de apoio ao antieuropeísmo do Partido do Reino Unido. Na Áustria, o partido de extrema-direita Liberdade encontra-se na crista da onda da popularidade graças a sua política antiimigratória. Outro partido de direita que também se denomina Liberdade provocou a queda do governo na Holanda. Com as nuvens econômicas que dominam o horizonte, pode-se dizer que o baile apenas começou.

Tradução: Katarina Peixoto