Os desafios da produção do etanol a partir da celulose

Por Jose Mayo
Comentário do post "A competitividade do etanol de segunda geração"
Os desafios para a produção de "etanol celulósico" ainda são muitos. Produzi-lo não tem nenhum mistério; há vários processos conhecidos. Os problemas começam com os impactos sobre o meio ambiente, derivados da escolha do processo de produção, e também dos gastos energéticos envolvidos. Obviamente, processos em que se gasta mais energia na produção de um combustível, do que a energia que depois se obterá com a sua utilização, são meramente "decorativos"; não convém, numa economia de escala, retirar menos, de qualquer "coisa", num processo, do que a mesma "coisa" que no processo é investida.
p>A tecnologia da "quebra" da molécula celulósica em banhos ácidos, é extremamente poluente e cara; o ácido sulfúrico é um produto de síntese industrial complexa e transversal a muitos produtos e processos industriais que o tornam, como "matéria prima", muito requerido e disputado, encarecendo sobremaneira o etanol que seria através dele produzido.
A tecnologia "hidrolítica" que, além do ácido, também emprega água e calor para quebrar a molécula, otimiza um pouco o processo, mas mesmo assim é deficitário em termos energéticos, requerendo mais energia para a produção que a que devolve o produto assim produzido (TRE > que 1), portanto, não faz muito sentido.
As tecnologias mais promissoras são as enzimáticas, semelhantes às empregadas na produção de etanol da garapa, mas com a diferença de que, na garapa, as enzimas são fornecidas por organismos vivos, os "fermentos" (espécies de fungos unicelulares de rápido crescimento), que se desenvolvem exponencialmente no caldo de cultura e fermentam a sacarose a álcool, como nos processos de produção da cerveja, ou do vinho. Depois, completado o processo de fermentação, procede-se à destilação, não muito diferente da destilação da cachaça, e "gradua-se" o álcool, para que possa ser mesclado a outros combustíveis, como, a gasolina, ou para que possa ser usado diretamente nos veículos.
Já a celulose, lamentavelmente não é fermentada por esses mesmos microorganismos, mas é "digerida" por algumas espécies de bactérias, que produzem as "celulases" (enzimas capazes de digerir a celulose), no seu metabilismo, mas... não na velocidade requerida pela indústria, sendo muito menos eficientes do que os fungos fermentares nesse "ofício". As bactérias de que falamos, são as encontradas, por exemplo, no intestino dos cupins, dos "ursos panda", no "rúmen" de alguns herbívoros, cangurus, coalas, preguiças e no intestino de alguns vermes e crustáceos marinhos, como os "taredos" e os "gusanos", ou "busanos", bem conhecidos pelos pescadores do Brasil, pelos prejuízos que causam aos cascos das embarcações de madeira que, se não tratados com tintas protetivas, ditas "venenosas", em pouco tempo ficam cheios de furinhos.
No "front" dessas pesquisas, para a produção de "etanol celulósico", está a possibilidade de manipulação genética de algumas bactérias de mais rápido desenvolvimento e com tecnologias de cultivo já bem desenvolvidas, como ae.coli por exemplo, com a finalidade de produzir, em quantidades industriais e a baixo custo, enzimas capazes de "pré-digerir" a celulose, transformando-a em açúcares menos complexos, capazes de, depois, serem submetidos com proveito aos processos fermentativos já conhecidos.
Saudações