Tombini, o “spread” bancário e a economia

Coluna Econômica - 29/02/2012
Para sua apresentação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do Banco Central Alexandre Tombini preparou uma exposição exclusivamente macroeconômica – com dados da economia global e brasileira.
Mas o tema preponderante acabou sendo o “spread” bancário. Tombini informou ter recebido ordens expressas da presidente Dilma Rousseff para trabalhar na redução do “spread”.
Trata-se de uma longa batalha, de mais de dez anos, com resultados pouco significativos.
O spread é composto pelos seguintes fatores: lucro do banco + taxa de inadimplência da carteira + impostos. Sempre que aumenta a inadimplência, o banco incorpora esse indicador à sua taxa e repassa para o conjunto dos clientes.
Na exposição, Tombini mencionou um conjunto de medidas, já aprovadas, algumas implementadas:
  • Cadastro positivo – visando melhorar a qualidade das informações sobre os bons clientes bancários, reduzindo a taxa de inadimplência.
  • Portabilidade – possibilidade do cliente mudar de banco levando suas operações junto.
  • Redução do limite de operações de crédito registradas no Sistema de Informações de Crédito (CDR) do BC. Atualmente são registradas operações acima de R$ 5 mil. A partir de 30 de abril, as operações acima de R$ 1 mil, melhorando a qualidade da informação.
  • Criação da Central de Cessão de Crédito, sistema operado pela Câmara Interbancária de Pagamento (CIP) registrando compras e vendas de carteiras de crédito entre os bancos, visando aumentar a competição financeira.
  • Padronização de tarifas.
  • Conta salário.
O fato do crédito sobre PIB ter passado de 25% para 50% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo Tombini, também ajudaria a reduzir o “spread” bancário já que, ampliando a base, os bancos podem ter um mesmo lucro com uma margem menor.
Fatos: dados do próprio BC indicam que a parcela de lucros dos bancos no spread passou de 29,94% em 2009 para 32,73% em 2010, desmentindo a ideia do ganho de escala. No caso dos bancos privados – segundo levantamentos de Alexandro Martello, do G1 – em 2010 a parcela de lucro sobre spread foi de 34,15%, bem mais alto que os 30,6% dos bancos públicos.
Na verdade, o que ocorre é que a redução da parcela do spread destinada à inadimplência resulta em aumento da parcela destinada ao lucro dos bancos. E o resultado final continua intocável. Enquanto não se instituir um sistema efetivo de concorrência, não se sairá do lugar.
A parte oficial da apresentação foi sobre o cenário macroeconômico brasileiro e mundial. E outros pontos não receberam respostas objetivas, o mais relevante dos quais é o aumento esperado do fluxo de capitais especulativos para o país.
De 2010 a 2012 – disse Tombini – a maneira de combater esse fluxo foi uma combinação de políticas macroeconômicas com medidas prudenciais – por tal, entendam-se as medidas de contenção a crédito em lugar de aumento da taxa Selic.
Agora, tem-se esse enorme fluxo de capitais e perspectiva de desaceleração do crescimento da economia mundial em 2012, e crescimento baixo nos próximos anos. E não se tem uma estratégia para enfrentar a inevitável apreciação do real.

A liquidez global

A liquidez mundial é consequência das ações dos bancos centrais responsáveis pelas principais moedas de reserva, que têm mantido taxas de juros em patamares historicamente baixos, com taxas anuais entre 0% a 1% ao ano, e ampliado os programas de expansão monetária. Entre 2008 e 2012 os quatro principais BCs (EUA, UE, Reino Unido e Japão) expandiram seus ativos em US$ 4,6 trilhões, um aumento de 112%.

Redução da aversão ao risco

O que pode abrandar a invasão de dólares seria a chamada aversão ao risco – em momentos de crise financeira global. Em 2012, não haverá sequer esse fator de contenção, segundo Tombini, apesar da persistência de alguns fatores de risco, especialmente ligados ao baixo desempenho das economias centrais. Mas é o tipo de risco que reduz a demanda por crédito nesses países e aumeta o fluxo para os emergentes.

A economia brasileira

Sua previsão é de crescimento da economia brasileira se acelerando ao longo de 2012. A economia continuaria se desacelerando até o segundo trimestre (quando o PIB anualizado seria pouco superior a 2%), para se recuperar no terceiro e quarto trimestre. Apenas no primeiro trimestre de 2013 chegaria (em bases anualizadas) mais perto dos 4%. Já em relação à inflação, a aposta do BC é a convergência para a meta ainda em 2012.