quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ermínia Maricato e a reforma fundiária

Entrevista Ermínia Maricato - parte 1
"Questão urbana não precisa de novas leis"
Para urbanista Ermínia Maricato, problema de habitação é questão fundiária e do capital imobiliário
por Bruno de Pierro, no Brasilianas.org
Da Agência Dinheiro Vivo
O Brasil já tem planos e leis suficientes para resolver seus problemas urbanos e, por isso, não precisar de mais norma alguma para desenhar possíveis soluções. Está tudo definido na Lei de Zoneamento, da década de 1950, na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Cidade, criado em 2001 para organizar o aparado jurídico referente ao espaço urbano. A princípio, esse arsenal normativo deveria ter evitado o drama de Pinheirinho e de tantas outras comunidades que sofrem desapropriações repentinas, em nome do bem social. E por que isso não é evitado? Porque entre o planejamento, que fica ao nível das idéias, e a produção do espaço urbano há o abismo das relações sociais materiais. Ou seja, a guerra entre poderes do capital imobiliário.

.Ao defender esta tese, a urbanista da Universidade de São Paulo (USP) Ermínia Maricato faz questão de sublinhar: existe uma materialidade, que está na produção do espaço e nos interesses que regem essa produção, e que simplesmente é ignorada por gestores, urbanistas e pela mídia. Mais do que uma questão urbana, os problemas de habitação e transporte na cidade foram e são gerados pela tensão entre a questão agrária e a imobiliária - estas sim estão acima de qualquer bom projeto ou lei.
Em entrevista ao Brasilianas.org, Maricato explica porque os grandes centros urbanos, como o de São Paulo, não aplicam as diretrizes do estatuto - entre elas a demarcação das Zonas Especiais de Interesse Social - e qual a relação entre a alta do preço das terras, o programa Minha Casa Minha Vida, que ajudou a formular, e as “operações urbanas”, que, segundo ela, estão mais preocupadas com a renovação do que com a recuperação dos centros históricos, como ocorreu na França e em Portugal.
Ex-secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano no governo de Luiza Erundina (1989-1993), Ermínia Maricato foi nome fundamental na equipe que elaborou as propostas para habitação durante a transição do governo Lula, em 2003. Ajudou também na criação do Ministério das Cidades e na elaboração do Minha Casa Minha Vida, cujo processo Ermínia relata nesta entrevista. Seus 40 anos de profissão, atuando em governos, academia e instituições internacionais no Canadá, África do Sul e França permitiram à urbanista desenvolver uma crítica sistêmica sobre os problemas das cidades, levando em conta as lutas sociais e o poder hegemônico do capital imobiliário. Confira abaixo a entrevista.
Brasilianas.org - Como se dá o processo de definição das zonas especiais?
Ermínia Maricato - Vamos supor que você tem uma ocupação popular que está fora da lei. Então, marca-se essa área como uma zona especial, que vai ser regida por determinadas normas especiais. É traçada uma normatização especial, pois, no caso de favelas, você não teve um plano anterior. Essa zona é marcada para passar por um projeto, por um estudo, para, por exemplo, fazer o esgoto e o arruamento. Deve-se, também, tirar algumas pessoas que se encontram em locais perigosos, ou que se encontram na linha de passagem da água do esgoto. É preciso, depois, abrir espaço para o caminhão de lixo e a ambulância passar. Tudo isso exige estudos.
Para uma normatização específica, portanto, é preciso declarar uma zona especial, que pode ser de interesse social ou ambiental. No caso de zonas já habitadas, por exemplo o centro de São Paulo, você declara as ZEIS que estão ociosas com imóveis e, a partir dai, você faz o estudo. Agora, para você ver como a lei e o planejamento é absolutamente irrelevante - não quero dizer com isso que não foi importante conquistarmos o Estatuto da Cidade, mas acho que ainda temos que lutar pela apliacação dele -, eu poderia, sem o estatuto, lidar com o IPTU progressivo, no tempo e no espaço. Quando na prefeitura nós quisemos aplicar o imposto progressivo, o questionamento chegou no Supremo Tribunal de Justiça, que nos disse que não poderíamos aplicar, pois faltava uma lei. Acontece que em Curitiba o imposto progressivo já era aplicado, e ninguém questionara.
Explique qual a função do imposto progressivo, dentro do Estatuto da Cidade.
O IPTU progressivo tem duas formas: no tempo e no espaço. O IPTU progressivo no tempo foi criado na emenda constitucional que criou o SUS (Sistema Único de Saúde), e o progressivo no espaço foi criado pelo Estatuto da Cidade. Progressivo no espaço, o que é? Você tem bairros melhores, com renda mais alta, condição urbana muito melhor, e tem bairros precários, que não deveriam pagar a mesma quantia pelo imposto. Paga-se mais, de acordo com o valor da propriedade. Agora as prefeituras descobriram isso e estão usando.
Em São Paulo, aplica-se o IPTU progressivo, mas não aquele que está no Estatuto da Cidade. No estatuto, o imposto progressivo é uma espécie de ônus para quem deixa o imóvel vazio. A forma de aplicação é diferente; primeiro, identifica-se no mapa do Plano Direto quais são as propriedades que não estão cumprindo a função social. E, para isso, é preciso definir o que se entende por função social. Depois de mapear, dá-se um tempo para o proprietário usar a propriedade; ele pode construir ou alugar, mas não deixar vazia. Passado um período de tempo que a lei estabelece, determina-se a urbanização compulsória, ou seja, você tem que construir.
Então, na ordem, primeiro se aplica o IPTU progressivo?
Não, em primeiro lugar vem a urbanização compulsória, na verdade. Depois, o IPTU progressivo. Isso tudo é muito importante, pois se o imóvel valoriza mais que a alíquota, o cara não vai usar. E, finalmente, você pode desapropriar com os títulos da dívida pública. Portanto, são três passos para fazer com que o terreno seja efetivamente usado, sendo que dificilmente passamos do primeiro estágio. No Plano Diretor em geral, as pessoas falam quando que o imóvel não cumpre a função social, estabelece alíquota e aí deixa-se para uma lei complementar, que pelo jeito nunca se aplica.
Em relação às habitações ilegais, temos bem definidas quais são as zonas e como estão dispostas no território?
Você tem, no município de São Paulo, cerca de 20% da população morando ilegalmente, ou em loteamentos ilegais ou em favelas. Mas há vários níveis de ilegalidade, você pode ter um terreno legal, mas uma construção ilegal. Mas o fato é que se eu quero colocar dentro da legalidade essa parte da população, e uma parte grande está próxima dos mananciais - e só no município de São Paulo deve ser mais de um milhão de pessoas - as zonas não deveriam ser umas manchinhas no mapa, mas sim grandes partes do território. Mas o máximo que se conseguiu foi fazer umas manchas, que são muito tencionadas e que acabaram dentro do mercado imobiliário, algumas sendo até mais caras, pois são zonas que se mantiveram vazias e, agora com essa pressão do mercado imobiliário, se intensificou a procura. A lei diz que você tem que construir ali uma parte de moradias de classe média e outra parte de moradia social. Com o programa Minha Casa Minha Vida, alguns desses terrenos se valorizaram.
Então não se conseguiu atingir o objetivo?
Não serve muito para cumprir aquilo que se queria. Atende-se mais a nova classe média, e aqueles que estão na linha da pobreza continuam sem acesso. Esse desequilíbrios dos preços exigem outros instrumentos, porque é muito difícil fazer a Câmara aprovar uma grande parte da cidade, é uma grande correlação de forças.
Mas qual a origem da demarcação atual?
A demarcação atual foi feita no Plano Diretor na época da Marta [Suplicy]. Foi uma época em que o vereador Nabil Bonduki, do PT, chegou num acordo com o capital imobiliário e outros vereadores. O Nabil sempre foi um cara ligado à habitação social e, de alguma forma, tentou, com negociação, forçar o que ele pôde. Ele remeteu, para a lei complementar, uma revisão do Plano Diretor, e parece que não houve necessidade de complementação da aplicação dos instrumentos do Estatuto da Cidade. Por exemplo, você tem um princípio, que se aplicado para a cidade inteira seria muito bom, que é o direito da prefeitura de que seja oferecido a ela a venda de um imóvel qualquer antes de se oferecer ao setor privado. Isso é importante, porque a prefeitura compraria por preço de mercado - em geral, ela compra por mais caro, o que é incrível!
O fato é que há um monte de coisas no Estatuto da Cidade que já existiam, com a Lei de Melhoria. Na verdade, o Estatuto cria algumas coisas novas, como a função social da propriedade, a aplicação de IPTU progressivo, o princípio da dívida pública para desapropriação, o Plano Metropolitano de Transportes, a obrigatoriedade do Plano Diretor para cidades com mais de 20 mil habitantes, enfim. O importante é que o estatuto reuniu tudo o que existia, criando algumas coisas novas, porque o Judiciário não enxergava a lei.
O estatuto então serve mais como um organizador?
Sim, mas também para afirmar um tempo novo no Brasil, que é o tempo do Brasil urbano. No meu último livro, lançado em agosto de 2011, a tese que defendo é que a agenda política do Brasil mudou, do ponto de vista de políticas sociais, mas a questão urbana não entrou nessa agenda.
Quer dizer que a senhora acredita que, apesar das transformações sociais, com um mercado interno crescente motivado pelo acesso de novas pessoas na classe C, com o Bolsa Família puxando as políticas de distribuição de renda, não se preparou a complexidade urbana para a questão da moradia?
Veja bem, a questão da moradia entrou na agenda. Foi retomada a política de habitação e saneamento no governo Lula. Já a questão urbana não entrou, pois essa questão não trata apenas de obras. A questão urbana é, principalmente, a questão fundiária e imobiliária. Mas não entrou inclusive porque é de competência municipal...
O problema do federalismo.
Sim, a política urbana é de aplicação complexa no Brasil, porque o município é muito autônomo. E o poder local do município é um poder dominado pelo capital imobiliário e pelos proprietários de terra.
Trata-se da origem na questão da luta de classes, propriedade de terra?
Trabalhei quatro décadas fazendo proposta de governo e estou explicando isso, pois digo que não falta lei nem planos para organizar as cidades. Não há nenhum plano de transportes que não comece dizendo que o transporte coletivo é prioritário. Plano todo município brasileiro com mais de 20 mil habitantes tem. Agora, como que algumas capitais lá no Nordeste, ou no Norte, ainda tem mais de 50% da população morando ilegalmente, fora de qualquer plano ou de qualquer lei? Porque existe uma materialidade, que está na produção do espaço e nos interesses que regem essa produção, e que simplesmente é ignorada.
Como em Pinheirinho, onde se observou essa materialidade.
O caso de Pinheirinho aconteceu aqui do nosso lado, perto de São Paulo, não foi no interior do Pará. E ficou claro como se dá a decisão judicial, com aparato bélico. A lei que a juíza tem na cabeça, aquela lei da propriedade privada absoluta, não existe mais no Brasil, desde a Constituição de 1988. Não existe mais e, no entanto, ainda está na cabeça dos juízes, e isso é duro. Agora, existe uma ilegalidade como regra no campo brasileiro. Há uma bibliografia imensa sobre fraudes registrárias no país. No meu ponto de vista, o código está sendo apoiado para regularizar as propriedades. No entanto, quando eles invadem isso não gera protestos. isso não é discurso radical, trata-se de algo científico, tenho pilhas de artigos sobre isso.
Pegando o exemplo do município de São Paulo, novamente. O que inibe a entrada de empreendedores nas regiões centrais, para a construção de moradias populares?
O lucro.
Mas e a estratégia de se valorizar a região da Luz, por exemplo, com atividades culturais, museus, como a Pinacoteca, o Museu da Língua Portuguesa, não deveria levar também esses empreendimentos?
Uma coisa importante para se entender isso é o seguinte. Antes do Minha Casa Minha Vida, e portanto antes do governo Lula, elaboramos uma proposta, na equipe de transição, chamada Projeto Moradia, no Instituto Cidadania. A tese central era de que você tem um mercado que está atingindo 10% da população, pois o mercado formal no Brasil era um mercado de luxo. Os 90% da população eram deixados fora do grande mercado. Nossa idéia era de que se você atende a classe média que estava fora do mercado, e não atende a baixa renda, o que vai acontecer com as casas que se produz? Elas vão passar das mãos de uns para os outros, e isso não é motivo para não construir, como eu ouvia, até porque se o cara vende a casa ele ganha uma renda extra. Então a tese do Projeto moradia era estender o mercado privado para a classe média e o governo se concentrar nos mais pobres, pois 90% do déficit habitacional é zero a três salários mínimos. Queriamos que o mercado brasileiro se tornasse capitalista para pegar a classe média. E o que estou chamando de classe média? Aqueles que tem segurança no emprego, professores secundários, os funcionários da USP que moram na favela ao lado, enfim, uma classe média morando em loteamentos ilegais, mas que tem condição de construir uma casa.
E o projeto dizia que a questão da moradia era urbana, assim como a questão do transporte não é questão do transporte. Por isso, era preciso criar o Ministério das Cidades, para integrar a área de moradia com transportes e saneamento. Participei dessa equipe que criou o ministério. Quando foi desenhado o programa Minha Casa Minha Vida, o mercado tomou conta de um jeito da política, que as principais empresas abriram capital na bolsa. Com esse dinheiro da bolsa, essas grandes empresas compraram terras, comprando estoque de terras. Juntou-se a fome com a vontade de comer: tinha-se estoque de terra e capital financeiro para financiar. E então veio o dinheiro. Mas veja, escrevemos sobre isso durante quarenta anos, num ambiente em que você não muda o Estatuto da Terra no Brasil, grande parte desse dinheiro foi arrecadado para renda imobiliária.
Ou seja, faltou aliar a essa estratégia a reforma fundiária.
Sim, pois o centro da reforma urbana é a reforma fundiária, e por isso lutamos por uma constituição nova. Então, nós queriamos mudanças fundiárias. Quando o governo federal põe dinheiro e regulamenta a aplicação, as empresas imobiliárias começaram a aplicar e investir, aliado com o capital que vem de fora, da bolsa, e você tem um estouro no preço da terra. Lembrando que as empresas foram à bolsa antes do Minha Casa Minha Vida, que é de 2009. E a reforma urbana foi esquecida. Aqui em São Paulo mesmo, você tem oito ou nove torres locadas em certos lugares e com o sistema viário com a capacidade no limite.

Extrema pobreza cai na América Latina, diz Banco Mundial

Da Folha.com

Extrema pobreza registrou queda recorde na América Latina

DA FRANCE PRESSE, EM WASHINGTON
O número de pobres que vivem com menos de US$ 1,25 por dia caiu a níveis recorde na América Latina no triênio 2005-2008, a 6,5% da população, a mesma tendência apresentada em todos os países em desenvolvimento, informou nesta quarta-feira o Banco Mundial.
Em 2008, um total de 1,29 bilhão de pessoas, o equivalente a 22% da população dos países em desenvolvimento, vivia em extrema pobreza, ou seja, com menos de US$ 1,25 por dia, a cota internacional fixada pelo Banco Mundial.
Isso representa uma queda pela metade em relação a 1990, quando o BM começou a avaliar de forma sistemática e integral a pobreza no mundo.
Também significa que o primeiro objetivo de desenvolvimento do Milênio, que era reduzir a extrema pobreza à metade em relação a 1990, foi cumprido antes da data limite de 2015, segundo as estatísticas do Banco.
Um total de 1,94 bilhão de pessoas vivia em extrema pobreza em 1981, o que acentua o êxito desta redução da pobreza, levando-se em conta o aumento geral da população mundial.
"Esta redução geral ao longo de um ciclo trienal de seguimento se dá pela primeira vez desde que o Banco começou a contabilização da extrema pobreza", explicou o texto.
AL E CARIBE
Na América Latina e no Caribe, "a partir de um máximo de 14% de pessoas que viviam com menos de US$ 1,25 por dia em 1984, a taxa de pobreza alcançou seu nível mais baixo até então [6,5%] em 2008", explicou o texto.
A porcentagem de pobres que vivem com menos de dois dólares por dia na região era de 12% em 2008, explicou em uma coletiva de imprensa por telefone Martin Ravallion, diretor do Grupo de Pesquisas do Banco.
Na América Latina, o número de pobres aumentou até 2002, mas veio diminuindo de forma pronunciada desde então.
BRASIL
O Brasil costumava competir com a África do Sul como o país com mais desigualdades sociais no mundo, mas as políticas sociais e o crescimento econômico também estão fechando esta lacuna no país sul-americano, assim como no resto da região, explicou Ravallion.
Embora o estudo tenha terminado em 2008, a crise econômica mundial que explodiu neste ano não teve a repercussão que se temia, disse o Banco.
"Análises mais recentes (...) revelam que, embora as crises dos alimentos e dos combustíveis, além da crise financeira ocorrida nos últimos quatros tenham provocado em alguns casos fortes impactos negativos (...), a pobreza mundial, em conjunto, seguiu caindo", explicou o texto.
Mas os especialistas do Banco advertiram contra qualquer sentimento de vitória.
"Os 663 milhões de pessoas que superaram os limites da pobreza típicos dos países mais pobres continuam sendo pobres em comparação com o nível de vida que impera nos países de renda média e alta", disseram.
Embora os países pobres tenham alcançado em seu conjunto o nível de redução de pobreza fixado pela ONU, regionalmente apenas a Ásia (Leste Asiático e Ásia Central) atingiu concretamente este objetivo.
"Diante do ritmo atual de progresso, cerca de um bilhão de pessoas seguirão vivendo na pobreza extrema em 2015", explicou Ravallion.
A pesquisa se baseou em 850 estudos e pesquisas em 130 países até 2008, em comparação com os 22 estudos utilizados pelo BM no início de suas medições mundiais da pobreza, em 1990.
ÁSIA E PACÍFICO
Por regiões, a Ásia oriental e do Pacífico mostrou o progresso mais impressionante: 77% vivia com menos de US$ 1,25 por dia em 1981, em 2008 esta porcentagem era de 14%.
Na Ásia meridional, a taxa de extrema pobreza caiu de 61% em 1981 para 36% em 2008.
Na África Subsaariana, pela primeira vez, menos da metade da população (47%) vivia com menos de US$ 1,25 por dia em 2008 (51% em 1981).
No Oriente Médio e Norte da África, 2,7% da população vivia em extrema pobreza em 2008.

'Estatuinha', por Ilana Volcov


Por Ivan Moraes
Ilana Volcov canta "Estatuinha" de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri:


O crescimento sustentado na classe C

De Exame

Classe C sustentará aumento de 40% do PIB até 2020

Nova classe média, com renda entre R$ 1,4 mil a R$ 7 mil, será responsável pelo crescimento do país em menos de 10 anos

Agência Estado
São Paulo - Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostra que a classe média será a principal responsável por sustentar um crescimento acumulado de 40% projetado pela entidade para a economia brasileira até 2020.
O estudo "A evolução da classe média e o seu impacto no varejo", divulgado hoje, chama de classe média as famílias que formam a classe C definida pelas faixas de rendimento da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por esse critério, integram a classe média famílias com renda mensal de R$ 1,4 mil a R$ 7 mil.
prevê que o consumo familiar no Brasilserá de R$ 3,53 trilhões em 2020, ante R$ 2,34 trilhões estimados para 2011. O montante representará 65% do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2020. Para a entidade, o crescimento do poder aquisitivo da população ficará mais evidente na classe C, que hoje representa 54% dos brasileiros e possui uma capacidade de consumo de mais de R$ 1 trilhão, o que equivale a 51% de toda a renda das famílias.
A previsão é que já em 2015 a classe média seja responsável pelo consumo equivalente ao das classes A e B somadas. Segundo a pesquisa, o País passa por um forte processo de crescimento do mercado consumidor. Em 2003, as classes A, B e C representavam cerca de 49% das famílias brasileiras e atualmente essa proporção chega a 61%. "Em 2003, menos da metade dos brasileiros se encontrava em um patamar médio de consumo, enquanto hoje quase dois terços da população já alcançou esse patamar", afirma o estudo. "O Brasil de 2020 será um dos maiores mercados consumidores e uma das maiores economias globais."
A renda per capita da população, que em 2010 era de R$ 19.342, deve crescer 30% nas classes A (rendimento mensal acima de R$ 11 mil) e B (entre R$ 7 mil e R$ 11 mil) e 50% nas demais. Entre 2002 e 2010, a taxa de desemprego passou de 11,7% para 6,7%, de acordo com o estudo. A massa real de salários aumentou em torno de 30% no mesmo período.
"O Brasil tornou-se uma economia de classe média com renda maior e mais bem distribuída e ainda contará com o processo de inclusão de pessoas de faixas de renda mais baixas no mercado de consumo por mais essa década, ao menos", afirma a entidade.
As condições socioeconômicas verificadas nos últimos anos têm mudado, conforme a FecomercioSP, o perfil de consumo da população. "O consumidor brasileiro, que já evoluiu do consumo básico para um patamar mais sofisticado, vai demandar cada vez mais serviços e produtos de alta qualidade", prevê a pesquisa. Exemplo disso, segundo o estudo, é o gasto médio com alimentação fora do domicílio - que em 2003 era de R$ 114,59 por mês e passou para R$ 145,59 em 2009, aumento de 26,6%. Os gastos mensais médios com telefonia celular subiram 63,3% entre 2003 e 2009, passando de R$ 17,68 para R$ 28,93.
De acordo com a entidade, o comércio varejista foi um dos setores privilegiados com a mudança dos padrões sociais da população. O crescimento médio do varejo foi de 9% ao ano de 2004 a 2010, um aumento real de 82% nas vendas no período. "Em sete anos, o comércio varejista quase dobrou de tamanho", afirma a FecomercioSP.
População
A pesquisa projeta que, em 2020, o País terá aproximadamente 207 milhões de habitantes. A população economicamente ativa, atualmente de 130 milhões, deve atingir 145 milhões de brasileiros, o que representa um incremento de mais de 10% na força de trabalho potencial no fim da década.
Para a entidade, entretanto, o principal desafio do Brasil para os próximos dez anos é lidar com as consequências provocadas pelo envelhecimento da população. "Se a última década foi do fortalecimento e crescimento da classe média, esta será focada no entendimento dos riscos e oportunidades envolvidos no envelhecimento da população", observa o estudo.
O total de pessoas com mais de 60 anos deve pular de 18 milhões para 26 milhões em 2020. Para a entidade, com o aumento da qualidade e da expectativa de vida, muitas pessoas com idade superior a 60 anos irão permanecer no mercado de trabalho.

Montserrat Caballé: 'Vissi d'arte' e 'Un bel di vedremo'


Por Fuhgeddaboudit™
Montserrat Caballe – (1) "Vissi d'arte" (2) "Un bel di vedremo"

Meryl Streep, em 1988, pela fotógrafa Brigitte Lacombe

Por Vaas
Meryl Streep, EUA, 1988

 Foto de Brigitte Lacombe

Argentina pede boicote a produtos britânicos

De O Globo.com

Argentina pede que indústria boicote produtos britânicos

Londres diz que medida é contraproducente e faz apelo por cooperação

Com agências internacionais
BUENOS AIRES e LONDRES — Em meio à escalada de tensão entre os governos britânico e argentino às vésperas do 30 º aniversário da Guerra das Malvinas, a ministra da Indústria argentina, Débora Giorgi, pediu na terça-feira que as empresas de seu país parem de importar produtos de Londres. O apelo foi classificado pelo Reino Unido como contraproducente nesta manhã.
— Somos grandes investidores na Argentina e importamos bens argentinos. Não é interesse da economia argentina impor barreiras. A atitude correta neste carro é cooperação, não confrontação — disse um porta-voz do premier britânico David Cameron nesta quarta-feira, acrescentando que Londres já estava em contato com sua embaixada em Buenos Aires para resolver esta questão.
elo por um boicote às importações britânicos é a primeira medida de endurecimento contra o Reino Unido em si. Até agora, o governo de Cristina Kirchner tinha tomado inúmeras medidas para afetar os moradores das Malvinas, mas nenhuma delas se dirigia, até então, diretamente a Londres. O pedido, no entanto, não chega a ser uma surpresa. Desde que Buenos Aires impôs um embargo a todos os navios com bandeiras britânicas em portos argentinos, os britânicos esperavam novas retaliações.
Um grupo de empresários reunidos com a ministra parecia estar em sintonia com a nova postura de Buenos Aires. Débora pediu aos executivos que "substituam a origem de suas aquisições e escolham outros países de onde importá-las".
— É fundamental que a Argentina posso determinar quem são seus sócios comerciais estratégicos, e, neste sentido, o governo também dá um sinal para quem ainda utiliza o colonialismo como forma de obter recursos naturais alheios — disse em comunicado um grupo de empresários, que reuniam nomes da agricultura, do setor de eletrônico e químico.
No fim de semana, pela primeira vez, ainda que por decisão do governo da Terra do Fogo, dois cruzeiros vindos das Malvinas foram impedidos de atracar no porto do Ushuaia. Os navios faziam uma rota turística normal.

Morre Davy Jones, ex-Monkees

De Blitz
Morreu Davy Jones, cantor dos Monkees
Morreu Davy Jones, cantor dos Monkees -

 

Músico inglês tinha 66 anos e terá sido vítima de ataque cardíaco.
Davy Jones, um dos vocalistas da banda The Monkees, que se celebrizou nos anos 60, faleceu hoje, 29 de fevereiro.
Segundo o site da Rolling Stone, o cantor, que nasceu em Manchester há 66 anos, ter-se-á queixado de dores no peito ontem à noite, dando entrada no hospital esta manhã.
Ainda por confirmar, a causa da morte de Davy Jones, que este mês realizara uma digressão a solo, terá sido um ataque cardíaco.
Davy Jones ingressou nos Monkees - conhecidos por sucessos como "I'm a Believer" ou "Daydream Believer" - em 1965. A banda separou-se em 1971, mas viria a reunir-se várias vezes ao longo das décadas.
Jones trabalhou também como ator, inclusivamente enquanto membro dos Monkees, que nasceram no âmbito de um programa televisivo do mesmo nome. A seu cargo, Jones, o único inglês de um grupo radicado em Los Angeles, na Califórnia, tinha a vocalização de alguns dos temas. 

Os Monkees venderam mais de 65 milhões de discos em todo o mundo.
: VISÃO DE VERÍSSIMO SOBRE O BBB.

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB  é a pura e suprema banalização do sexo.
Luis Fernando Veríssimo
É cronista e escritor brasileiro
Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros...todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB  é a realidade em busca do IBOPE. 
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB . Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo dia.
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, Ongs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$ $$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores)
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema...., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , ·visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade.



 

“Acolher é abrir as portas... é abrir espaço em nosso coração para acolher o out...ro. Acolher significa hospedar, agasalhar, abrigar, amparar, dar atenção, receber bem, atender prontamente, é trazer para a intimidade. É dar oportunidade da pessoa se sentir amada. Tudo isso é sinônimo de acolhimento.Quando a gente acolhe,Deus visita."Ver mais

Tombini, o “spread” bancário e a economia

Coluna Econômica - 29/02/2012
Para sua apresentação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do Banco Central Alexandre Tombini preparou uma exposição exclusivamente macroeconômica – com dados da economia global e brasileira.
Mas o tema preponderante acabou sendo o “spread” bancário. Tombini informou ter recebido ordens expressas da presidente Dilma Rousseff para trabalhar na redução do “spread”.
Trata-se de uma longa batalha, de mais de dez anos, com resultados pouco significativos.
O spread é composto pelos seguintes fatores: lucro do banco + taxa de inadimplência da carteira + impostos. Sempre que aumenta a inadimplência, o banco incorpora esse indicador à sua taxa e repassa para o conjunto dos clientes.
Na exposição, Tombini mencionou um conjunto de medidas, já aprovadas, algumas implementadas:
  • Cadastro positivo – visando melhorar a qualidade das informações sobre os bons clientes bancários, reduzindo a taxa de inadimplência.
  • Portabilidade – possibilidade do cliente mudar de banco levando suas operações junto.
  • Redução do limite de operações de crédito registradas no Sistema de Informações de Crédito (CDR) do BC. Atualmente são registradas operações acima de R$ 5 mil. A partir de 30 de abril, as operações acima de R$ 1 mil, melhorando a qualidade da informação.
  • Criação da Central de Cessão de Crédito, sistema operado pela Câmara Interbancária de Pagamento (CIP) registrando compras e vendas de carteiras de crédito entre os bancos, visando aumentar a competição financeira.
  • Padronização de tarifas.
  • Conta salário.
O fato do crédito sobre PIB ter passado de 25% para 50% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo Tombini, também ajudaria a reduzir o “spread” bancário já que, ampliando a base, os bancos podem ter um mesmo lucro com uma margem menor.
Fatos: dados do próprio BC indicam que a parcela de lucros dos bancos no spread passou de 29,94% em 2009 para 32,73% em 2010, desmentindo a ideia do ganho de escala. No caso dos bancos privados – segundo levantamentos de Alexandro Martello, do G1 – em 2010 a parcela de lucro sobre spread foi de 34,15%, bem mais alto que os 30,6% dos bancos públicos.
Na verdade, o que ocorre é que a redução da parcela do spread destinada à inadimplência resulta em aumento da parcela destinada ao lucro dos bancos. E o resultado final continua intocável. Enquanto não se instituir um sistema efetivo de concorrência, não se sairá do lugar.
A parte oficial da apresentação foi sobre o cenário macroeconômico brasileiro e mundial. E outros pontos não receberam respostas objetivas, o mais relevante dos quais é o aumento esperado do fluxo de capitais especulativos para o país.
De 2010 a 2012 – disse Tombini – a maneira de combater esse fluxo foi uma combinação de políticas macroeconômicas com medidas prudenciais – por tal, entendam-se as medidas de contenção a crédito em lugar de aumento da taxa Selic.
Agora, tem-se esse enorme fluxo de capitais e perspectiva de desaceleração do crescimento da economia mundial em 2012, e crescimento baixo nos próximos anos. E não se tem uma estratégia para enfrentar a inevitável apreciação do real.

A liquidez global

A liquidez mundial é consequência das ações dos bancos centrais responsáveis pelas principais moedas de reserva, que têm mantido taxas de juros em patamares historicamente baixos, com taxas anuais entre 0% a 1% ao ano, e ampliado os programas de expansão monetária. Entre 2008 e 2012 os quatro principais BCs (EUA, UE, Reino Unido e Japão) expandiram seus ativos em US$ 4,6 trilhões, um aumento de 112%.

Redução da aversão ao risco

O que pode abrandar a invasão de dólares seria a chamada aversão ao risco – em momentos de crise financeira global. Em 2012, não haverá sequer esse fator de contenção, segundo Tombini, apesar da persistência de alguns fatores de risco, especialmente ligados ao baixo desempenho das economias centrais. Mas é o tipo de risco que reduz a demanda por crédito nesses países e aumeta o fluxo para os emergentes.

A economia brasileira

Sua previsão é de crescimento da economia brasileira se acelerando ao longo de 2012. A economia continuaria se desacelerando até o segundo trimestre (quando o PIB anualizado seria pouco superior a 2%), para se recuperar no terceiro e quarto trimestre. Apenas no primeiro trimestre de 2013 chegaria (em bases anualizadas) mais perto dos 4%. Já em relação à inflação, a aposta do BC é a convergência para a meta ainda em 2012.

O documentário 'El Milagro de Candeal'

Por Mariana Silveira
Comentário do post "A música de Sérgio Mendes e Carlinhos Brown"
Nassif,
Abaixo, está um documentário chamado, O Milagre do Candeal, sob a direção do espanhol Fernando Trueba. O documentário nos mostra o trabalho de Brown no Candel, bairro pobre que nasceu em SSA, e como ele tem mudado a vida daquelas crianças por lá.  O Candeal, hoje, não é apenas um bairro, mas um conservatório de música que, certamente, dará grandes nomes a Bahia e ao Brasil.
Quem não assistiu, recomendo que assista, pois é um banho de cultura negra na sua essência, algo que o Brasil  tenta esconder e que, a Europa e os EUA ficam maravilhados, sobretudo o meio acadêmico.
p>O documentário tem a participação do pianista cubano, Bebo Valdéz, Matheus Aleluia, Caetano, Gil, Marisa Monte e outros.

O professor Dorival, por Delfim Netto

Da Folha de S. Paulo
ANTONIO DELFIM NETTO
Peço permissão à Folha e aos seus leitores para usar este espaço lembrando e homenageando um velho e querido professor e amigo.
Ele influenciou de forma importante várias gerações de economistas formados na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), na USP, nos idos dos anos 1950 e 1960. Morreu, no começo de fevereiro, aos 96 anos.
O professor Dorival Teixeira Vieira (1915-2012) formou-se na Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da USP no final da década de 1930.
p>No campo da economia, que concentrou posteriormente seu interesse, recebeu as lições de alguns docentes de economia política, todos franceses de orientação literária e institucional.
Como todos os economistas brasileiros do início da década de 1940, foi praticamente um autodidata que se produziu no isolamento intelectual imposto pelos anos de guerra (1939-45).
Foi um mestre sério, assíduo e exigente. Um pouco rabugento, mas sempre disposto a ajudar os alunos que o procurassem. Devido à falta absoluta de profissionais, ele acumulava quatro disciplinas e acompanhava os alunos do segundo ao quarto ano.
Naquele tempo, a disciplina teoria do valor era autônoma e ocupava o segundo ano inteiro. Dorival percorria a história do pensamento econômico desde Aristóteles até os austríacos com as sutilezas psicológicas que o agradavam enormemente.
Quando chegava a Marx, entretanto, a teoria do valor-trabalho era submetida a uma complicada tortura intelectual que, paradoxalmente, terminava mal ajeitada e pouco convincente.
No terceiro ano, Dorival ministrava um curso trabalhoso sobre a teoria dos preços. Por meio de geometria plana, em quadros negros quadriculados adrede e cuidadosamente preparados, com giz de várias cores, explorava um grande número de possíveis "tipos" de mercado e sua formação de preços. Nem uma só equação.
A definição de "elasticidade" usava apenas acréscimos finitos. Não raramente, portanto, as aulas terminavam em interessantes discussões sobre a generalidade das conclusões. A sua tese de cátedra foi sobre um dos regimes de formação de preços (monopólio bilateral) e foi obscurecida por aquelas razões.
Ainda no terceiro ano, ele promovia interessantes lições sobre a teoria da moeda. Quantitativista e repetindo sua ênfase histórica, ia de Locke até o Keynes de 1930.
No quarto ano, ele minis-trava um excelente curso sobre teoria do comércio internacional.
Dorival Teixeira Vieira foi um grande brasileiro e excelente professor.
Ele deixa saudades!

Calmon e a competência do CNJ

Por Marco Antonio L.
De Terra
Ministra quer mudar Constituição para CNJ punir juízes corruptos

 José Cruz/Agência Brasil
A corregedora nacional Eliana Calmon participa na CCJ do Senado de audiência pública para orientar a votação de proposta de emenda à Constituição que explicita e amplia as competências do CNJ e da Corregedoria Nacional de Justiça
Foto: José Cruz/Agência Brasil
p class="common-ui common-ui-facebook-middle show">A corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, voltou a defender nesta terça-feira competências estabelecidas em lei para processar e julgar juízes que pratiquem atos de improbidade e corrupção. Em audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, ela defendeu a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição que trata do assunto e falou sobre a dificuldade das corregedorias estaduais de fazer o trabalho de fiscalização e de processar juízes, especialmente desembargadores.
"No caso dos desembargadores, eles são julgados pelos seus colegas também desembargadores. E é muito difícil você julgar um igual, um amigo querido. Os juízes de primeira instância estão um pouco mais distantes, é mais fácil, mas os desembargadores estão ali trabalhando lado a lado com os corregedores", explicou a ministra.
Calmon também falou sobre as dificuldades estruturais das corregedorias estaduais que, segundo ela, são "estranguladas" pelos tribunais quando começam a desagradar aos desembargadores. Além disso, a ministra denunciou a interferência política de corregedores que almejam assumir a presidência do tribunal onde atuam. "Os melhores corregedores são os que não terão idade para se candidatar a presidente depois", ironizou.
Segundo Eliana Calmon, "todos sabem quem são os maus juízes", mas aqueles que agem corretamente se calam para não se indispor com os colegas. "A magistratura séria, decente, não pode ser misturada com meia dúzia de vagabundos que se infiltraram na magistratura."
A PEC que trata das competências do CNJ é de autoria do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e sugere uma regulamentação mais clara sobre as competências do conselho. Segundo Torres, a proposta foi apresentada antes da decisão recente do Supremo Tribunal Federal que considerou válida a competência do CNJ para processar e punir juízes, independentemente de os processos terem sido iniciados nas corregedorias estaduais.
Para o senador, ainda existe margem para questionamentos, e a aprovação da PEC vai trazer mais segurança para a atuação do órgão corregedor. "A decisão do Supremo é só liminar e foi por um voto, quer dizer, é por uma margem precária. Essa PEC deixa claro que o CNJ tem a competência para processar e julgar originariamente atos de juízes e desembargadores. Isso é importante porque o CNJ, ao ver que as corregedorias estaduais não estão tomando providências, poderá agir", declarou o senador.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra), Paulo Schimidt, também participou da audiência e disse que a classe não se opõe aos poderes do CNJ. Schimidt, no entanto, cobrou que o conselho ofereça apoio aos magistrados na mesma proporção em que fiscaliza a atuação deles. "Os juízes esperam muito do CNJ, só na questão disciplinar, no cumprimento de metas, na busca de eficiência, mas também esperam muito do CNJ na defesa da independência do juiz."
A expectativa é de que a PEC que trata dos poderes do CNJ seja votada na CCJ do Senado na próxima semana. O relator da proposta é o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), que deverá acatar novas sugestões para ampliar ainda mais os poderes do conselho.

As projeções otimistas do PIB de 2012

Por Marco Antonio L.
Do Valor Econômico
Por Antonio Delfim Netto
O Banco Central construiu e publica, mensalmente, um Índice da Atividade Econômica (IBC-Br) que tenta simular e antecipar as variações do Produto Interno Bruto (PIB). Trata-se de um conjunto de informações convenientemente ponderadas, que quando comparadas às estimativas do PIB trimestral construídas pelo IBGE mostram uma alta covariação. A base do IBC-Br é a média de 2002 = 100. No início de 2011 ele revelou a perda de dinamismo do PIB em resposta às medidas macroprudenciais tomadas pelo governo para prevenir uma aceleração da taxa de inflação. No último trimestre, como mostram os dados a seguir (2002 = 100, dessazonalizado), houve uma recuperação: 1º trimestre/2011 = 140,26; 2º trimestre/2011 = 139,92; 3º trimestre/2011 = 139,29; 4º trimestre/2011 = 140,02.
entemente, o PIB atingiu sua maior queda em outubro (139,32). Retomou ritmo mais vigoroso a partir de novembro, também em respostas às medidas do próprio governo. Em novembro o nível foi de 140,33 (um acréscimo de 1,29%) e em dezembro, 141,13 (um acréscimo de 0,57%), aumentos mais altos dos que os previstos pela maioria os analistas do mercado, o que sugere algum otimismo para 2012.
Todas as "previsões" estão sujeitas a condicionalidades frequentemente não explicitadas. Como disse o grande economista e membro do comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra Charles Goodhart, "as previsões são razoáveis quando tudo permanece constante e o futuro acaba sendo parecido com o passado. Os modelos comuns utilizados pelos bancos centrais forçam, praticamente, as previsões e as remetem às tendências passadas. Entretanto, quando há uma mudança da situação eles - como todos os outros 'previsores' - encontram-se em graves dificuldades". E continua: "Nem os bancos centrais, nem qualquer outro organismo (ou pessoas) detém uma fórmula aceitável para prever, quer o PIB, quer a taxa de inflação ou mesmo a taxa de juros para além de uns poucos meses. Se você acredita (Goodhart usa a palavra "believe" = tomar como verdade) que existem poderosas forças que fazem a economia retornar a um equilíbrio, tais projeções de prazo médio são satisfatórias. Mas se tais forças centrípetas existem, a política monetária torna-se muito fácil, com ou sem o benefício das previsões ("Longer-Term Forecasts are a Step Backwards", "Financial Times", 1º de fevereiro de 2012). No nosso caso é claro que nem estamos em condições normais, nem existem forças poderosas que nos levem de volta a um "equilíbrio". Esse, obviamente, só existe nos "modelos" com os quais tentamos organizar nossos pensamentos e têm pouco a ver com a realidade.
Projeções do PIB sugerem algum otimismo para 2012
Em momentos como o atual, a ideia conservadora "que o tiver que ser, será" é inaceitável, porque a política econômica do governo está vigilante: o Banco Central está antenado com a realidade nacional e cuidadoso com a internacional. Dispõe de instrumentos macroprudenciais cujos efeitos foram minimizados por alguns analistas, mas aos quais a economia respondeu com bastante rapidez (como foi o caso no início de 2011), além da manobra com a taxa de juros (no segundo semestre). A difícil situação orçamentária construída ao longo de muitos anos e, pelo menos em parte, resultante do desejo de construir uma sociedade mais "justa" (com maior igualdade de oportunidades) implícita na Constituição de 1988, foi mantida de forma muito razoável em 2011 e a despeito de toda a descrença de uma parte do "mercado" deve sê-lo em 2012. As últimas semanas revelam que a política econômica prossegue na mesma linha, com o corte do Orçamento, a baixa da taxa de juros, a ampliação controlada do crédito, o aumento dos investimentos dos três níveis de administração pública e a cooptação do setor privado, a despeito da curiosa disputa semântica entre "concessão" e "privatização".
É certo que continua a pressão de preços do setor de serviços. Mas sabemos que não pode e não deve ser resolvida, como sugerem alguns, reduzindo ainda mais o crescimento do PIB por meio do aumento da taxa de juro real. Por outro lado, espera-se que o Congresso aprove já no primeiro semestre, a lei da previdência do funcionalismo público. Com isso abre-se o caminho para que o Executivo acelere a remessa de projetos de lei que facilitem a melhoria do "ambiente de negócios", reduzam o "custo Brasil" e estimulem a rápida criação de novas empresas.
Nos últimos dois meses, três mudanças foram importantes: 1ª) com relação ao misterioso "produto potencial" parece que agora o "mercado" aceita que ele anda às voltas de 4,5%; 2ª) o Banco Central quis saber do sistema financeiro como ele calcula a taxa de juros "neutra"; e 3ª) houve uma melhora dos humores do setor privado em matéria de confiança no governo. Isso, somado aos sinais positivos do IBC-Br de novembro e dezembro mostra que, se tivermos disposição de fazê-lo, um crescimento de 4% a 4,5% em 2012 não está fora do radar, mesmo porque ele é bissexto!
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras

WikiLeaks e Stratfor

Por Marco Antonio L.
Na redecastorphoto
WikiLeaks e os arquivos da “CIA nas sombras”
Plaza Pública, Guatemala
WikiLeaks obtiene archivos de “la CIA en la sombra”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Comentário:
15 meses depois de publicar 250 mil telegramas das embaixadas norte-americanas em todo o mundo, WikiLeaks volta a lançar luz sobre as relações obscuras entre uma empresa global, informantes dentro das forças de segurança dos estados e ex-agentes da inteligência/espionagem dos EUA: a empresa Stratfor. WikiLeaks, que tem sede em Londres, obteve 5 milhões de e-mails da empresa Stratfor, especializada em segurança, e selecionou 25 jornais em todo o mundo, para divulgá-los e comentá-los para a opinião pública. O jornal Plaza Pública, na Guatemala, é um deles.

Nenhuma publicação de mercado do Brasil está incluída nessa seleção de 25 publicações decentes, em todo o mundo.
p> 
De um dose-mailsagora publicados, de 8/3/2011:

“Abriu-se a caixa de Pandora (com a candidatura de Sandra Torres como candidata). O setor privado vai tratar de matá-la.Los Zetasvão protegê-la. Logo será o Apocalipse.E então? Como tiramos dinheiro disso tudo? 
Abraços
[assina] Jaime Rivera,CEOde Bladex
“Os Arquivos da Inteligência/espionagem Global” que começaram a ser publicados hoje em todo o mundo sãoe-mail s dessa empresa de “inteligência global” com sede no Texas e revelam como opera uma empresa que vende serviços de inteligência confidencial a grandes empresas e agências de governos nos EUA. Ose-mailsmostram a rede de informantes, a estrutura de pagamentos, as técnicas de lavagem de dinheiro e de métodos psicológicos para obter informação.
Há quase 30 mile-mailsnos quais se discute a Guatemala, entre 2004 e 2011.Plaza Públicaos publicará ao longo dos próximos meses, oferecendo a nossos leitores, como fez com os telegramas diplomáticos doCablegateno ano passado, o contexto necessário no qual cadae-mailestá inserido.
Como advertimos no ano passado, nada garante que o que se lê nose-mailsde Stratfor seja verdade. Do nosso ponto de vista, Stratfor é uma fonte. Nesse caso, é uma fonte que tem acesso a dados e informações que se compram e vendem-se, no limite entre a legalidade e a ilegalidade. E Stratfor é também, por vocação empresarial, “fonte de outras fontes”, sem que ninguém, até agora, se tenha preocupado com a veracidade da “inteligência” que Stratfor vende, regida, como empresa, por seus próprios interesses empresariais.
Nesses “Arquivos da Inteligência/espionagem Global” vê-se o processo pelo qual Stratfor paga aos seus informantes através de contas na Suíça e cartões de crédito pré-pagos.
Dentre ose-mailssobre a Guatemala, já encontramos coisas que dão calafrios, sem qualquer credibilidade, mas que, tanto quanto se sabe, bem poderiam ser tratados como informação “de inteligência”. Por exemplo, ume-mailrecente, que ainda não completou um ano, datado de 8/3/2011:

“Abriu-se a caixa de Pandora (com a candidatura de Sandra Torres). O setor privado vai tratar de matá-la.Los Zetas vão protegê-la. Será o Apocalipse. E então? Como tiramos dinheiro disso tudo? 
Abraços. 
 [assina] Jaime Rivera, CEO de Bladex
O problema para a Guatemala é que, embora o comentário acima nada tenha a ver com a realidade, oe-mailé assinado por ninguém menos que o hoje presidente do Banco Latino-americano de Comercio Exterior, ouvido recentemente pela revistaForbes. Em seu perfil, aparece como assessor da Bolsa de Valores de Nova York, com renda anual de quase um US$1 milhão.
Essa é apenas uma amostra de quem são as fontes e informantes de Stratfor e do que dizem; muitos deles em postos de decidir, por exemplo, se o país recebe ou não investimentos externos e o que se faz com o dinheiro.
E Stratfor – diferente do que dizem os telegramas que chegam dos EUA – serve-se de métodos pouco ortodoxos. George Friedmann, fundador, gerente financeiro e diretor de Stratfor, resume numa frase: “Você tem de controlar [sua fonte]. Controlar quer dizer controle financeiro, sexual ou psicológico”, Friedman explicava à analista Reva Bhalla, dia 6/12/2011, que quer extrair, de um informante israelense, informação sobre o estado de saúde do presidente Hugo Chávez.
Stratfor também menciona o jornalPlaza Públicapelo menos uma vez, quando zomba de uma coluna de David Martínez Amador na qual David critica o modo de os norte-americanos obterem informações em campo no México e na América Central, que só conseguem de informantes infiltrados. “David não gosta de nós porque somos gringos”, dia 19/8/2011.
O que WikiLeaks faz agora está sendo feito apesar do bloqueio econômico que lhe foi imposto por Bank of America, VisaMastercardPayPal e Western Union, o que dificultou muito o processo de as doações de colaboradores chegarem até WikiLeaks.
Simultaneamente, as mesmas empresas nada fazem para impedir que seus serviços sejam usados para financiar organizações antissemitas, sionistas, racistas suprematistas brancos e criminosas de todos os tipos. Julian Assange continua em prisão domiciliar em Londres, há seis meses.
A falta de ética de algumas empresas jornalísticas, como o jornal The Guardian, destruiu a relação cooperativa que WikiLeaks havia construído com o jornal britânico, e obrigou a organização a publicar, de uma só vez, todos os telegramas diplomáticos dos EUA que tinha em seu poder. Diferente do que divulgaram os maiores jornais do mundo, os telegramas diplomáticos tiveram de ser divulgados em bloco, porque jornalistas, entre os quais jornalistas do TheGuardian,publicaram em livro as senhas de acesso ao material; e um desertor de WikiLeaks vendeu as senhas que tinha em seu poder.
Para salvar a integridade dos telegramas, antes de que fossem manipulados, WikiLeaks decidiu liberar todos. Na nossa avaliação, do jornalPlaza Pública, não foi a melhor opção, mas entendemos os motivos de WikiLeaks.
Assim aconteceu que, um ano depois, a própria embaixada dos EUA na Guatemala, para expor argumentos seus, citou artigos do jornalPlaza Públicaque usavam informação dos telegramas vazados por WikiLeaks.
O que temos agora é mais um esforço a favor da transparência da informação, e esforço mundial. Jornais de prestígio em todo o mundo, comoPúblicona Espanha; a revistaRolling Stonenos EUA;The Hinduna Índia;La Naciónna Costa Rica;Página 12na Argentina,La Jornadano México ouPlaza Públicana Guatemala são alguns dos parceiros de WikiLeaks nessa ocasião.
Cobertura mais completa sobre temas globais pode ser encontrada, no jornalPúblico/WikiLeaks, espanhol.
Ao longo das próximas semanas,Plaza Públicadistribuirá, comentada, informação que haja nose-mailsde Stratfor sobre a Guatemala e alguns dos países vizinhos.
Postado por Castor Filho às 2/28/2012 

Serra e as ficções políticas, por Mauro Santayana

Por esquiber
Do Jornal do Brasil
As ficções políticas e as realidades do mundo 
Mauro Santayana
Faz parte da história política de São Paulo a aparente indecisão de muitos de seus líderes. O senhor Jânio Quadros, que tinha dias de Hamlet e dias de MacBeth, subordinava suas decisões a dois pontos geográficos da cidade: Vila Maria e Sapopemba. Vila Maria é a região de classe média emergente e Sapopemba, área mais pobre. Ele costumava consultar os dois eleitorados. De Vila Maria vinha a esperança da vitória, uma vez que, desde sua eleição para vereador, contara com o apoio de seus eleitores. Sapopemba era o teste de popularidade. Antes de candidatar-se a esse ou àquele cargo, aferia, nos comícios, o apoio de seus moradores.
José Serra não chega à tragédia de MacBeth mas se aproxima, em seu “ser e não ser”, do príncipe da Dinamarca 
p>O ex-governador José Serra não chega à forte tragédia do escocês MacBeth, mas se aproxima, em seu “ser e não ser”, do príncipe da Dinamarca. Não que Hamlet disputasse uma eleição, a não ser a do destino, e que a sua dúvida fosse muito além de sua própria tragédia, ainda que nela amarrada. Mas se Jânio e Serra estão muito distantes da essência do caráter que Shakespeare dá aos dois personagens, e que ele pintara como antípodas morais, os dois paulistas começam a se assemelhar.
Jânio adorava que fossem bater à sua porta, apelar para a sua taumaturgia populista. Serra, ao desconfiar de que não o procurariam, como a boia salva-vidas na tempestade (mesmo porque os ventos políticos sopram brandos, por enquanto), resolveu aceitar, de bom grado, os ralos apelos que lhe chegam.
Os paulistas começam a dar à eleição para a prefeitura de São Paulo importância maior do que ela realmente tem, e os comentaristas políticos, próximos dos tucanos bandeirantes, avançam sobre a lógica, dizendo que ela terá efeitos nacionais. Não há dúvida de que a cidade é a mais importante do país, no que se refere à economia e à cultura, de maneira geral, mas está distante da realidade política e social do Brasil como um todo. Os paulistanos atuam como se fossem o sol, em torno do qual os planetas menores orbitam e de cuja luz dependem.
Na noite de sábado para domingo, em uma cidade satélite (das mais pobres) de Brasília, Santa Maria, alguns rapazes atearam fogo a moradores de rua. Um deles morreu, e o outro se encontra seriamente ferido, com poucas possibilidades de sobrevivência. Há dois fatos, relacionados com essa tragédia, que devem ser ponderados. Até há algum tempo, os pobres costumavam ser solidários entre eles.
Agora, no entanto, submetem-se à cultura, made in USA, da intolerância, da violência pela violência, da discriminação e do desprezo pela vida. Talvez — e as investigações continuavam — os incendiários de fim de semana sejam dos “emergentes” das cidades satélites, filhos de pais bem empregados, moradores em casas confortáveis. E, talvez, não — o que será pior.
O outro ponto de reflexão é o da impunidade. Há quase quinze anos, cinco rapazes, filhos de famílias da elite de Brasília, atearam fogo ao índio Galdino, dirigente da etnia pataxó da Bahia, que dormia em um ponto de ônibus. Presos, graças ao testemunho de um rapaz da mesma idade, que passava de carro pelo local, os culpados foram defendidos com veemência. Seus pais, e os advogados que contrataram, tentaram desqualificar o crime — tratara-se, segundo a desculpa, de uma brincadeira que dera errado. Não tinham a intenção de matar, só a de assustar com o fogo. Foram presos e julgados. Condenados, em 2001, a 14 anos de prisão — menos um deles, que era adolescente — não passaram mais de quatro anos na prisão, onde gozaram de todas as regalias, entre elas a de sair para estudar e trabalhar, quando aproveitavam o tempo para beber e namorar, chegando frequentemente muito depois da hora de recolher.
Todos somos iguais diante da lei, embora alguns sejam muito mais iguais que outros
As denúncias de que estavam sendo privilegiados de nada adiantaram. Eles eram enteados e filhos de juízes. Como sabemos, todos somos iguais diante da lei, embora alguns sejam muito mais iguais.
É neste país, em que as leis são meras declarações de intenção, e apenas 3% dos responsáveis pelos crimes de homicídio são julgados e cumprem penas, que temos de pensar. Não entendem os legisladores e administradores públicos que a impunidade dos poderosos estimula a criminalidade geral.
Assim, enganam-se os tucanos da maior cidade brasileira. São Paulo, com toda sua opulência (mesmo com a maior população de moradores de rua de todo o país), não é a estrela em torno da qual circula o sistema planetário nacional. Mesmo porque as elites de São Paulo, salvo poucas exceções, exercem uma cidadania off-shore, desligada do destino do país.
O nosso futuro está sendo construído em todo o território nacional, pela inteligência, pelo esforço e pelo patriotismo de seus trabalhadores, incluídos os de São Paulo — e não pelos senhores da Febraban, das corporações multinacionais, empenhadas em novo e cômodo colonialismo.

Irã diz que bomba nuclear é "grande pecado"

Por Paulo F.
Da Swissinfo
Fabricar bomba nuclear é "grande pecado", diz Irã
Por Caroline Copley
GENEBRA, 28 Fev (Reuters) - Enfrentando uma crescente pressão internacional por causa de seu programa nuclear, o Irã pediu novas negociações com a agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira e condenou a produção de armas atômicas, dizendo que isso é um "grande pecado".
O Irã afirma que seu programa nuclear é pacífico, mas as negociações com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) estão interrompidas e as potências ocidentais se preocupam cada vez mais com a possível dimensão militar da atividade atômica de Teerã.
p>Em discurso na Conferência sobre o Desarmamento, em Genebra, patrocinada pela ONU, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi, disse esperar que as conversas prossigam e que está confiante de que elas seguirão na direção correta.
"Gostaria de enfatizar novamente que não vemos nenhuma glória, orgulho nem força nas armas nucleares, mas o oposto, com base no decreto religioso emitido por nosso líder supremo, de que a produção, a posse, o uso ou a ameaça de uso de armas nucleares são ilegítimos, fúteis, perigosos, prejudiciais e proibidos como um grande pecado", afirmou ele.
Muitos no campo ocidental, entretanto, permanecem céticos. A AIEA afirmou que não estão planejadas novas conversações, dado que os diplomatas ocidentais relataram uma indisponibilidade do Irã para lidar com as alegações de pesquisa nuclear militar.
Um relatório preparado pela AIEA na semana passada revelou que o Irã aumentou de forma significativa o enriquecimento de urânio, o que fez aumentar os preços do petróleo por causa dos temores de que as tensões entre Teerã e o Ocidente possam culminar num conflito militar.
Israel ameaçou desferir ataques para evitar que o Irã obtenha a bomba, dizendo que o progresso tecnológico contínuo de Teerã indica que em breve ele pode passar a uma "zona de imunidade".
Em reuniões de alto escalão entre a AIEA e o Irã, ocorridas em Teerã em janeiro e fevereiro, as autoridades iranianas se recusaram a responder a relatórios da inteligência sobre pesquisas sigilosas relevantes ao desenvolvimento de armas nucleares, disseram diplomatas ocidentais.
Falando a jornalistas em Genebra, Salehi disse que o Irã espera que o "diálogo iniciado" com a AIEA continue.
Reuters

O manual da Inquisição

Por Marco Antonio L.
No Vermelho
Martelo das Bruxas orientou séculos de perseguição às mulheres
O monge alemão Heinrich Kramer, autor da obra,  possuía o que se define hoje como uma estrutura psicológica neurótica. Ele concentrou a misoginia de sua época (século 17) num tratado para caça às bruxas.
 O martelo das bruxas, livro
O martelo das bruxas, o livro
p>Katharina Henot foi a primeira vítima. Depois que, em 1627, a influente comerciante foi condenada e executada por "magia maléfica", iniciou-se uma avalancha de processos por bruxaria na cidade alemã de Colônia: nos três anos seguintes, pelos menos 24 mulheres foram acusadas e mortas.
Cento e quarenta anos antes, um monge dominicano estabelecera os fundamentos para identificação e perseguição às feiticeiras, naquilo que hoje se chamaria um best-seller: o Martelo das Bruxas – Malleus maleficarum ou Der Hexenhammer. O tratado compilava o saber e os medos da época, fornecendo os argumentos necessários àqueles que acreditavam na caça às bruxas.
Hoje, o Conselho Municipal de Colônia se ocupa da reabilitação oficial de Katharina Henot. A Deutsche Welle conversou com a historiadora Irene Franken, natural da cidade renana, sobre um dos livros mais infames jamais publicados.

Deutsche Welle: Em 1486, o monge dominicano Heinrich Kramer redigiu o Martelo das Bruxas. O que ele contém exatamente?
Irene Franken: Do ponto do vista do conteúdo, o Hexenhammer se compunha por três partes. Primeiro explicava-se como identificar bruxas – ou melhor "magas", pois a palavra "bruxa" [Hexe, em alemão] ainda não era reconhecida e difundida de forma ampla. Na segunda parte do livro, Kramer enumerava, através de histórias exemplares, o que essas supostas magas eram capazes de fazer para prejudicar as pessoas. E, na terceira parte, explicava como deviam transcorrer os processos contra essas mulheres malvadas.

DW: Que processos eram esses?
IF: Os processos da época mudaram de perfil, através desse livro. Até então, quem denunciava alguém corria, ele mesmo, perigo de ir preso, até o processo ter-se concluído. Com seu Martelo das Bruxas, Heinrich Kramer cuidou para que se pudesse denunciar sem ser inculpado ou punido, caso as acusações fossem falsas.

Via de regra, todo o esclarecimento do caso era entregue a juízes eruditos – ou por vezes laicos – que então se encarregavam da busca por indícios. Não era permitido nenhum tipo de assistência legal – como sabemos por um caso em Colônia, onde uma comerciante tentou apelar para seu advogado. E as acusadas – pois eram geralmente mulheres – se viam diante de um esquadrão masculino que não hesitava a mandar despi-las, na procura por supostas marcas de bruxa, as quais então serviam como indício para sua "natureza mágica".

DW - O que se sabe sobre o monge Heinrich Kramer?
IF - Ele fora designado pelo Papa como inquisidor no sul da Alemanha. De fontes isoladas, sabemos que nem sempre foi bem sucedido em suas incursões a diversas cidades, onde afixava uma nota ou cartaz à porta das igrejas, exigindo a denúncia de todas as "magas". Em certos casos, ele chegou a ser expulso sob pancadas. Parece ter sido uma espécie de ato de vingança, ele iniciar essa campanha contra as mulheres, através do Martelo das Bruxas.

É certo que esse livro não é o primeiro a focalizar tão fortemente nas mulheres a temática da bruxaria, mas é o que faz isso da forma mais explícita e veemente. O livro é também entremeado de máximas sexuais. Pode-se partir do princípio que Kramer temia as mulheres.

Na qualidade de monge, ele não conhecia quase nenhuma, pois entrara para o mosteiro ainda criança. No Martelo há repetidas alusões a fazer desaparecer os membros dos homens com um passe de mágica, a torná-los impotentes e coisas semelhantes. Pode-se, portanto, deduzir que Heinrich Kramer possuía uma estrutura fundamental neurótica.

DW - A que público se dirigia o Martelo das Bruxas?

IF - Ele é redigido em latim e, em princípio, se dirigia a especialistas, sobretudo teólogos. Mas, aí, ele chegou também a muitos juristas e conselheiros municipais, que o utilizaram para se informar sobre a matéria. Não é que antes não existissem livros sobre o tema, mas Heinrich Kramer simplesmente compilou suas teses a partir de inúmeros autores, de mais de 100 fontes, as quais ele, em parte, menciona: são outros teólogos, mas também a Bíblia e livros de direito da época.

DW - Como o tratado foi divulgado?

IF - O Martelo das Bruxas se beneficiou da invenção da imprensa, e do fato de ser possível divulgar textos em tiragem bem alta. Certa vez tive um original na mão: é um livro mínimo. Ao todo foram publicadas 29 edições. Ele não atingiu apenas a Alemanha, mas foi empregado em toda a Europa. Contudo muitos países também se distanciaram do livro, o rejeitaram. Como a Itália e a Espanha, por exemplo – justamente aqueles que associamos com a Inquisição.

DW - Até que ponto o Martelo instigou a caça às bruxas?IF - Não tanto quanto pensam algumas pessoas, hoje. O Martelo das Bruxas não desencadeou imediatamente uma gigantesca avalancha de perseguição: mais correto seria dizer que ele foi a reação a uma onda de perseguição no século 15. Mas a maior onda de caça às bruxas na Europa só começou no século 17, quando o livro já contava mais de um século. Ele ainda era relevante, mas também havia alternativas, na época.

Não se pode dizer que a obsessão com as feiticeiras tenha sido atiçada com força extraordinária apenas pelo Hexenhammer. Porém ele forneceu uma base de argumentação e, sobretudo, também uma certa segurança jurídica. De posse desse livro, qualquer alcaide ou conselheiro podia se informar sobre a forma de instituir um processo por bruxaria, e assim se sentia assegurado. Via de regra, eram homens eruditos que liam esse livro. Clérigos o empregavam em seus sermões e havia traduções para leigos, através das quais as ideias básicas do Martelo eram mais amplamente difundidas.

DW - Por que as teses do tratado encontraram solo tão fértil na época?
IF - Eram tempos inseguros. Diversas coordenadas que vigoravam na Europa, até então, haviam perdido a validade. Regiões inteiras estavam realmente na miséria; ocorrera uma pequena Idade do Gelo no século 15; seguiu-se a Reforma de Martinho Lutero, acarretando incertezas religiosas; em parte reinava o medo. Nesse contexto, o Martelo das Bruxas oferecia orientação e segurança. Através dele, parecia possível identificar quem não levava a fé cristã a sério – pois a magia também era interpretada como renegação da fé cristã.

DW - Mas foi justamente o Martelo que permitiu que se denunciasse qualquer pessoa, a qualquer momento. Isso não tornou a situação ainda mais tensa e insegura?
IF - O livro contribuiu, acima de tudo, para que se aprofundasse a concepção sobre as mulheres, já existente. Não era um pensar novo. Antes disso, as mulheres já eram apresentadas como o elemento ruim e fraco da sociedade. Mas o Martelo das Bruxas reforçou essa visão. Ele cuidou para que gente que, de alguma forma, era diferente da maioria, fosse mais rapidamente perseguida. A sociedade hegemônica assegurou seus próprios valores ao eliminar os marginais, como diríamos hoje.

DW - Não havia realmente qualquer possibilidade de escapar a uma persecução?
IF - Era muito difícil. Uma vez que a acusação de bruxaria era lançada, só restava ao implicado torcer para que o juiz encarregado possuísse uma boa formação. Quanto mais erudito e culto o juiz, mais brandas eram as sentenças pronunciadas. Pode-se constatar isso na comparação entre as grandes cidades e os povoados, nos quais a decisão cabia a juízes laicos: em geral, estes impunham sentenças bem mais rigorosas.

Quando uma mulher ia às barras do tribunal, ainda era possível os conselheiros, encarregados de decidir sobre a realização do processo, sustarem a ação. Nesses casos, eles eventualmente expulsavam a acusada da cidade, ou decretavam prisão domiciliar, ou a liberavam inteiramente. Uma mulher acusada de feitiçaria, na época, não era automaticamente condenada à morte. Mas, a rigor, havia bem pouco que ela mesma pudesse fazer.

Por Laura Döing (av), revisão de Roselaine Wandscheer

Fonte: Deustche Welle

A proposta do consórcio chinês para a licitação no RJ

Por Marcos RTI
De O Globo

Consórcio chinês oferece novos trens 50% mais baratos do que os de São Paulo
A Secretaria Estadual de Transportes encerrou nesta segunda-feira o processo de entrega das propostas de licitação de novos trens para modernizar o sistema ferroviário do Rio de Janeiro. O consórcio chinês CMC-CNR-CRC ofereceu o menor preço: R$ 543.171.084,49 pelas 60 locomotivas. A nova frota estará em funcionamento até 2016.
Segundo o secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, o governo estadual vai economizar quase 50% por cada locomotiva em comparação aos trens encomendados à Alstom para reforçar as linhas do metrô paulista. O Governo do Estado de São Paulo pagou R$ 17 milhões por cada composição, enquanto o Governo do Estado do Rio vai pagar pouco mais que R$ 9 milhões pelo equipamento que tem características semelhantes. Cada composição é composta por quatro vagões.
p>Lopes explica que as novas composições seguirão o mesmo modelo dos trens chineses. “Os trens serão equipados com ar condicionado, painéis de informações de led, comunicação direta entre o trem e o Centro de Controle, câmeras de monitoramento interno, bagageiros, tvs de plasta”, disse em nota o secretário, que acrescentou que os intervalos entre uma viagem e outra serão menores.
O consórcio CMC-CNR-CRC saiu na frente na primeira fase da licitação. Para encerrar o processo, e anunciar o vencedor, a comissão responsável ainda precisa analisar todo o conteúdo técnico das propostas, num prazo de aproximadamente 30 dias. A expectativa é de que os trens comecem a ser entregues em 18 meses a partir da assinatura do contrato com a empresa vencedora. Até 2015, todos já estarão em operação.

O grupo chinês é o mesmo que venceu a licitação das 30 composições adquiridas pelo governo estadual em 2009, e que já começaram a ser entregues para testes de operação nos ramais da Supervia. O secretário Julio Lopes explica que até setembro deste ano todas as composições serão entregues às linhas administradas pela Supervia.