domingo, 25 de setembro de 2011

Um corte de cetim”


Por Xico Sá, inspirado em Folhetim.



Se o Paiva não me segura, essa história poderia ter sido bem mais trágica, embora eu só recorde, com alguma nitidez, do momento em que o palhaço adentrou o ambiente cantarolando uma marchinha ridícula:



Quem pintou o amor foi um ceguinho

mas não disse a cor que ele tem

Penso que só Deus dizer-nos vem

ensinando com carinho

a pura cor do querer bem…

[“Amar a uma só mulher”, Sinhô]



Braços dados com a inominável criatura, parecia caçoar das leis do cosmo.

Adentrou o botequim com aquele semirriso de galã da Sétimo Céu.

O perfeito canalha de fotonovela.

Quem via toda banca e moral era incapaz de saber os expedientes e o saldo negativo do sujeito. Pequenos golpes nas damas da noite, falsas rifas de instituições de caridade e obras completas, amigo, em se tratando de contos do vigário.

Fingia o rico de berço, mesmo sem um barão na carteira. Ao terceiro uísque era dono de meia Vieira Souto. Mais dois, incorporava a lagoa Rodrigo de Freitas, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor… Tudo lavrado em cartório.

Delirante no último, viajou mais do que o Jorginho Guinle, embora a milhagem realista — esta, sim, de fazer inveja a Mr. Gulliver, Júlio Verne e todos os navegadores épicos — tenha sido rodada apenas nos trens da Central do Brasil, um ser eminentemente ferroviário e suburbano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário