terça-feira, 27 de setembro de 2011

Antonio Ribeiro


De Paris

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23/09/2011

às 11:14 \ Oriente Médio

Estado palestino: todos sempre querem, a hora nunca faz unanimidade

O Diário Oficial circulou esta semana com decreto da Prefeitura do Rio de Janeiro determinando a remoção de cerca de 480.000 postes fincados na Cidade Maravilhosa. A proposta tem como objetivo chegar em fevereiro de 2016 com o emaranhado de fios elétricos e cabos telefônicos da rede aérea embutido no subsolo do balneário carioca. Velha como o século XIX, a idéia além despoluir o visual da paisagem urbana, é medida preventiva adotada por grandes metrópoles contra acidentes e para melhor conservar os materiais condutores. Contudo, tão logo o decreto foi anunciado, alguns lembraram a falta de mapeamento completo e detalhado do subterrâneo da capital e de pontos da cidade inadequados para a instalação de dutos. Técnicos do setor dizem que nem sempre a rede subterrânea, a exemplo de Paris, Berlim e Londres, é a melhor solução.



Ou seja, o contrario da criação do estado nacional palestino. A ver.



Trata-se de quase uma unanimidade da diplomacia mundial a existência – reconhecida, segura e pacífica – de dois estados vizinhos como um passo para solução do velho conflito entre israelenses e palestinos. O princípio é aceito por Israel, embora não implementado, e endossado pelos principais mediadores do conflito, o Quarteto de Madri: ONU, Estados Unidos, União Européia, e Rússia. Crê-se com razoável chance de acerto de que a situação possa trazer benefícios mais amplos nas relações tumultuadas do Oriente Médio e mais profundamente, em um sentimento de injustiça, nem sempre justificado, sentido pela Rua Árabe. Prudentes não tem a ilusão de que quando este dia chegar, irá arrefecer espíritos mais radicais. O extremismo tem vida autônoma, qualquer motivo serve. Se não existem, são fabricados. Sucede que o momento da criação do estado nacional palestino parece ser sempre prematuro e a boa hora, uma quimera. Nem quando isto aconteça apenas no papel como é o caso agora que provoca nos corredores das Nações Unidas, uma excitação semelhante a disparo alarme contra incêndio no leste da ilha de Manhattan.



O obstáculo da vez, dizem, seria a divergência entre a corrupta Autoridade Palestina que governa a Cisjordânia e o grupo terrorista Hamas que toma conta da Faixa de Gaza. Mais uma vez as condições ideais não estariam reunidas. A sugestão é que, antes de tudo, eles se metam de acordo e saiam dali uníssonos para sentar a mesa de negociação com o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu caso ele, finalmente, achar que a ocasião é propícia. Equivale a dizer que dois irmãos devem decidir entre si qual parte do terreno herdado podem reivindicar de direito enquanto o primo vai construindo sua casa em cima. Bizarro. A existência do estado nacional palestino independe dos seus governos provisórios. Que nação foi reconhecida em função de quem a governa? Reconhece-se sim, se um governo é legítimo para governar tal estado. Mas isso é questão interna a ser resolvida entre os cidadãos do estado em questão. A existência do estado em si, não. O Zimbaué é reconhecido como país a despeito de Robert Mugabe. O Irã deixou de ser Irã devido a dupla Ali Khamenei e Mahmoud Ahmadinejad? O Paquistão não é nação porque abriga e deu proteção a terroristas? Recomendável ler “O que é uma nação?”, de Ernest Renan.



É político e arriscado o pedido de Mahmoud Abbas para que se reconheça a Palestina – Cisjordânia e Faixa de Gaza – como estado-membro da ONU, encaminhado carta primeiro ao Conselho de Segurança (CS), onde os Estados Unidos prometem vetar. Se o pedido de adesão for aprovado por 9 votos entre os 15 membros, terá que ser obter, no mínimo, 97 entre 193 participantes da Assembléia Geral. Mas o que se espera dos palestinos? O presidente Barack Obama não quer melindrar o eleitorado judaico as vésperas de sua tentativa de reeleição. Direito dele. O presidente Nicolas Sarkozy com um índice de popularidade batendo nas canelas, também a um ano da eleição presidencial, não quer perder o eleitorado francês de crença muçulmana e judaica. Perfeitamente compreensível. Mas os honoráveis senhores querem também que os palestinos esperem eternamente o reconhecimento do seu estado e, entretanto, privem-se dos meios diplomáticos legítimos e pacíficos para que se chegue a ele?



É muito.



Por Antonio Ribeiro

Tags: Air France, Ali Khamenei, Barack Obama, Binyamin Netanyahu, Conselho de Segurança da ONU, Israel, Mahmoud Abbas, Mahmoud Ahmadinejad

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